24.8.14

Pourtant quelqu'un m'a dit



Primeiramente eu quero apresentar o Põe na Roda pra quem não conhece. É um canal de quatro caras que fazem videos que sempre enfocam a realidade homossexual com a família e a sociedade. Vale a pena assistir todos os videos, sem importar a sua identidade. 
Esse é um dos videos que mais me impactou no canal. Ele fala sobre os homossexuais que não se assumiram pra sociedade por diversos motivos, muitos que até se confundem com a minha vida.



Quando eu comecei a namorar com Yoshi, eu primeiro procurei meus amigos. Não foi uma questão só de apoio sabe? Foi uma questão de querer saber quem estaria comigo quando eu precisasse, caso meus pais tivessem qualquer tipo de reação contrária. Ter Yoshi do meu lado já era muita coisa, claro. Mas eu sempre frui criada pra ser familiar. Prezar a família. Coloca-la acima de tudo e entender que eu precisava agradar eles - entende-se família pai e mãe. 
Quando eles finalmente souberam, que foi de uma maneira um tanto conturbada, e incrivelmente eu estava tão inabalável que nem rolou uma briga, eu entendi que tudo aquilo era novo de mais pra eles já que normal é o gay que mora em outra casa e tem outra família mas quando é na nossa, tudo muda de configuração. 
A diferença pra maioria dos caras que depõem nesse vídeo, e a minha realidade em relação aos meus pais, é que a religião dos meus pais - ou melhor a falta dela, já que Espiritismo é uma doutrina - ajudou mais no meu processo de aceitação do que no de julgamento. O problema foi mais em mim, pois fui eu que desde criança ouvia católicos, evangélicos e demais protestantes falando que a homossexualidade não era algo de Deus; que todo gay iria morrer no fogo do inferno; que Deus não os aceita e não os ama. E afinal se eu fosse meio gay, eu estaria metade salva e metade condenada? Isso seria possível? 
Demorou muito tempo, mesmo já tendo começando com Yoshi, pra que eu começasse a entender que eu não estava errada e que mesmo que eu estivesse, que eu queria e estaria - e ainda estou - pronta pra enfrentar meu pecado. Digo isso porque eu sempre gostei de lidar com todas as possibilidades. Quem sou eu pra saber a verdade de Deus?! Odeio ficar tendo que tomar uma verdade e alienar o resto, só quando essa verdade é sólida mesmo se tratando de Alguém que pra nós é abstrato. Não tem literatura de cunho religioso que elucide definitivamente a situação dos homossexuais - bissexuais, trans* e cia - nessa vida como a gente conhece. 
Ai veio outra problemática na minha vida que se encaixou bem nesse vídeo. Quando um dos meninos diz - não com essas palavras, claro - que não quer se assumir porque essa palavra conota que estamos fazendo algo errado. 
Pra mim a parte mais difícil de ser gay é ter que se aceitar, quando tem tanta gente na sociedade te depreciando e dizendo as mais loucas calunias sobre a sua vida. Demora de entender que você não deve nada ao mundo, e nem ele a você e que sua vida é sua e só você responde por ela e só você é responsável pelos seus atos e que se dane quem pensa que tem o direito de te julgar pra elas eu sempre mando um: Deixa eu me ferrar sozinha :3
Voltando a problemática, a situação é que pouco tempo depois que eu e Yoshi começamos a namorar meu pai me disse "Mila, você tem que contar pra suas avós" e minha mãe contra respondeu "Contar pra que? A sua vida é sua então pra que ficar divulgando por ai o que você faz ou deixa de fazer?". Na fala de meu pai eu senti a responsabilidade de me assumir e na de minha mãe o receio da represália dos parentes em relação ao modo de vida que eu resolvi assumir.  Teve um tempo em que eu senti essa vontade de contar as minhas avós. Mas tadinhas. Uma tem Alzheimer e se lembra de pouca coisa e a outra tem muitas coisas mais importantes pra se preocupar do que ficar me julgando com quem eu faço sexo ou deixo de fazer. Mas eu repensei e pensei de novo. Quando eu tava namorando com Victor eu apresentei pros parentes paternos e os maternos só conhecem de nome. 
E porque a necessidade da apresentação? Obrigação. Eu já tinha passado 16 anos BV e nem meu pai mais acreditava na minha palavra quando eu dizia que ninguém tinha me chamado atenção o suficiente para desconfiança porque meus genes paternos (que  é o que owna por aqui) são completamente libidinosos. Ou seja, apresentei Victor porque era o primeiro. Me senti obrigada a dizer pra família algo como "Olha kiridos, eu to aqui viu? Ja beijei. Sou mocinha. Tenho um namorado. To dentro dos padrões familiares". Mas só foi por isso. Depois dele, eu não me senti mais obrigada a apresentar quaisquer pessoas que fossem aparecer na minha vida pra um relacionamento sérioengraçado então só porque eu to em um relacionamento homossexual eu preciso ainda sim contar a minha família?! Eu acho que não. Não faz parte da minha conduta me esconder, apenas da minha conduta de não precisar me assumir porque eu não estou fazendo nada de errado e não ainda não estou procurando a aprovação de ninguém. 
Admito que já cheguei a me sentir renegando minha namorada por não sai por ai propagando nossa união - porque a sociedade meio que tem necessidade de saber onde existe um relacionamento homossexual ou não - mas entendi que hetero, homo, estranho... Enfim, qualquer que seja o tipo de relacionamento que a gente tem, a gente não precisa propagar por ai. 
Enfim, assistam mesmo os videos desse programa porque são mega engraçados e os meninos sempre tocam nas feridas da sociedade.




Ps.: Meus pais acham que eu sou gay. Tadinhos. 
Ps2.: Odiei a disposição das imagens mas to com muita fome pra arrumar isso por agora
Ps3.: O texto ficou muito grande e eu me perdi nas pontuações e tals então depois eu releio - ou alguem muito bom me faz o favor - pra poder arrumar as pontuações e as arrumações dos parágrafos.

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