7.5.14

Eu nasci com cabelo enroladinho, um monte de cachinho na cachola e toim! ♫

Desde muito cedo ninguém soube cuidar muito bem do meu cabelo "ruim", afinal, mesmo com pele clara, eu tenho na cabeça a senzala, e se pra quem é negra existia e existe a pressão da sociedade de se adequar a ditadura dos cabelos macios, sedosos e lisos, pra mim que tenho pele clara, sentia essa pressão ainda muito grande, ainda quando criança.
Sofria muito com a falta de definição do meu cabelo. Ele não é fácil de se lidar e não é simples deixar ele arrumado e com cachos definidos, mais difícil ainda é deixar ele bonito como as pessoas diziam e dizem que ele tem que ser.
Minha mãe sempre procurou meios, produtos e penteados pra poder domar eles e deixa-los bonito, e fazia várias experiencias em cima da minha caixola procurando a achar a mágica que mais se adequava ao fim que queríamos(?) alcançar. Mas sempre irei dizer que ela nunca foi culpada. Ela só queria conseguir pentear meu cabelo e manter ele domado de um jeito adequado, já que assim como a mãe dela, ela aprendeu que as mulheres deveriam sempre andar arrumadas, e com penteados impecáveis e isso significava ter um cabelo bom, um cabelo liso, e como naquela época não era tão difundido todos os truques para se cuidar de um cabelo afro, ela e eu sempre achou que a saída mais lógica e mais fácil era alisar.
Acontece que o tempo foi passando e eu fui me acostumando com a ideia de que me deram de que o liso é o mais legal, mais bonito, mais interessante e lutei durante longos anos contra meu cabelo até meu primeiro corte químico, foi uma parada tensa. Perder quase todo o cabelo, me deixou quase que inconsolável e piorou mais quando eu percebi que ele ficou mais feio como jamais poderia estar antes, porque um cabeleireiro não sabia o que estava fazendo direito e, não se preocupou em entender que nem todo cabelo é igual e que ele não deve sair colocando qualquer produto na cabeça de uma cliente sem se preocupar em saber se o produto deve mesmo ser aplicado sem causar maiores problemas e que vai obter o resultado desejado. Tudo isso foi um trauma, me deixou com aquele sentimento de profundo arrependimento e de ser a pessoa mais idiota do mundo. Como de esperado, não para mim, ingênua naquela época ano de 2008, eu tive que fazer um Big Chop (corte tipo joãozinho) e aguentar as piadinhas das pessoas no colégio sobre a minha falta de cabelo ou o meu corte além do aspecto sempre seco que ele sempre ostentou, o pior comentário foi "parece a cabeça da minha p*" e eu queria muito, naquela época, que os comentários parassem ai, mas sei que eles foram além. Felizmente meus amigos, até os que eu nem esperava, ficaram do meu lado nessa época, mesmo que eu tivesse uma infinita vergonha de ter que sair por ai parecendo um menino, afinal eu nunca fui muito feminina assim. 
Quando meu cabelo tava crescendo, eu abusei das tranças e de cremes e outras coisas que eu encontrava pela minha frente e até que eu conseguia deixar meu cabelo com um bom aspecto, e eu fui mantendo ele assim até quando deu; mas ai o cabelo cresceu e eu tentei deixar ele do jeito que ele era, cuidar dele de forma natural e não deixar mais que ninguém tocasse com uma química nele mas ninguém me incentivou, nem me ajudou. Foi ainda em 2009 que eu voltei a por alguma química no meu cabelo. Felizmente nos anos seguintes, não molestei mais meus fios e nem tratei eles com desdém - quer dizer, molestei com química, mas eu tinha muito mais cuidado em pesquisar sobre e perguntar sobre antes de colocar algo nele - apesar de sempre querer me encaixar no liso perfeito que muitas tinham. queriam ter ou diziam que era o certo de se ostentar na cabeça.
De lá pra cá, o que mudou é que mesmo com química, meu cabelo está muito mais bonito, como nunca foi mas sabe, eu não to satisfeita? Aliás, porque deveria? Eu, por 19 anos, fui obrigada por mim mesma na maior parte do tempo, a tentar fazer meu cabelo se encaixar no padrão de moda que as pessoas sempre diziam que era o certo e elas sempre me apoiavam em todas as minhas tentativas em alisar o inalisável e domar o indomável.
Finalmente eu cansei de verdade, como nunca havia cansado antes de ficar presa a coisas que ditam como eu devo ser, como eu devo andar, me vestir e falar. Nunca gostei de ser mandada mesmo...
E esse ano eu resolvi me retirar da tirania do liso e perfeito e vou assumir quem eu sou e o que meu cabelo é. Ele é tão negro quanto deveria ser e é assim que eu gosto dele.
Contar aqui em casa não foi fácil, as pessoas pensaram mais nos custos do que nos benefícios, sem querer trocaram minha felicidade e liberdade por números e papéis, mas ainda sim, ninguém vai me parar. Falem o que quiserem falar, não me importo, who yes door? 
  
Como toda mudança, eu quero que essa chegue logo! O mais rápido que puder. Pena que essa mudança não pode ser imediatista porque eu não aguento um Big Chop de novo, meu psicológico não ta pronto pra isso, não pelo corte e pelos comentários mas eu lutei tanto pra ter cabelo que abrir mão de mais de um palmo de fios mortos me deixa com profunda tristeza apesar de saber que eu vou A D O R A R quando eu cortar então eu vou me organizar esse ano pra que no ano que vem, no mais tardar, eu possa fazer o que tando desejo: Assumir meus cachos. 4b pfvr *beijinho no ombro*

#Ansiosissíma *-* 

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